As mãos dos agricultores que movimentam grande parte da economia na Zona da Mata Norte de Pernambuco também são responsáveis por transformar matéria-prima em arte. Na época de pouca safra de cana-de-açúcar, por exemplo, muitos trabalhadores recorrem aos trabalhos manuais para conseguirem uma fonte de renda. A palha e a fibra da bananeira se tornam esculturas, bolsas, sandálias e cestos. Esses e outros trabalhos em barro e materiais recicláveis estarão expostos na Feira de Negócios do Artesanato (Fenamata), realizada de 8 a 11 de setembro, no município de Vicência, localizado na Zona da Mata Norte de Pernambuco.
Na semana que antecede o evento, os artesãos participam de oficinas de olaria, confecção de mamulengos e reciclagem de pneus. A ideia é capacitar cerca de sessenta jovens e adultos para desenvolverem produtos através do artesanato, elaborando identidade visual e oferecendo consultorias sobre a divulgação do trabalho. As oficinas são ministradas na Escola Municipal Comunidade Cristã Vânia Jerônimo, na Zona Rural de Vicência. Dividem as salas de aula estudantes de escolas públicas desde os 12 anos e trabalhadores rurais.
De acordo com a coordenadora pedagógica Luzinete Maria da Silva, a diminuição na contatação dos safristas, que trabalham no corte da cana-de-açúcar, aumentou o interesse pelos cursos e oficinas oferecidos. “Houve uma grande procura e os agricultores dividem a sala com seus filhos, já que estudantes de três escolas públicas estão participando também. O objetivo é proporcionar o desenvolvimento do setor e das pessoas que se dedicam e querem viver dessa cultura. Para todos foi uma novidade porque nenhum dos alunos sabia manusear o barro, fazer corte no pneu, nem sabia como começava a fazer o mamulengo”, disse.
A artesã Josefa Ambrozina da Silva, de 40 anos, vende panos de prato, conjuntos de berço e de cozinha pintados a mão na feira livre da cidade e segue de porta em porta pelas ruas para mostrar seu trabalho. Desde o dia 1° de setembro ela está aprendendo como criar objetos de decoração com pneus para aumentar a renda. Tudo o que está produzindo será exposto em um estande na Fenamata. Para ela, o artesanato mostrou outras oportunidades de carreira.
“Trabalho com pintura há 16 anos e consegui fazer um curso superior em biologia graças às vendas. Apesar de ter me formado, não pretendo largar o artesanato porque essa é uma forma de mostrar a riqueza na minha cidade. Eu acredito que as pessoas precisam olhar com mais atenção valorizando os artesãos”, comenta.
As oficinas são ministradas por Edjane Maria do município de Glória do Goitá, que ensina a confecção de Mamulengos, João Batista Vilela, de Aliança, que trabalha com esculturas de pneu e a olaria fica por conta do Mestre Zuza, de Tracunhaém. Ao final da Feira, todos os participantes das oficinas irão expor o que produziram no Mercado Regional de Artes, localizado no Centro da cidade.
Além das oficinas, um programa de capacitação oferecido pelo Sebrae tem o objetivo de formalizar os artesãos consolidando as produções feitas na cidade. “Nós identificamos que o artesanato Mata Norte, apesar de ser forte, não têm identidade com o local. Então queremos mostrar o que é forte em cada município para regionalizar. Por exemplo, Vicência tem os engenhos, as cachaças, o voo livre, e porque não exibir essas características no artesanato? Dessa forma, quando o turista chegar vai saber o que encontrar naquela cidade”, explica o gestor do Projeto de Economia Criativa da Mata Norte, Normando Albuquerque.
Ao todo 13 municípios participam da Fenamata e cerca de 180 artesãos recebem capacitação através do Projeto de Economia Criativa. Eles aprendem sobre práticas de produtividade, design de produto e consultoria de divulgação digital. “A nossa missão é fomentar o empreendedorismo e nosso desafio é não permitir que essa cultura morra. Precisamos que os artesãos enxerguem o potencial de seus trabalhos, valorizem, sabiam criar uma identidade, agreguem valor e divulguem no meio digital”, conta Normando.
Do: Diário de Pernambuco
Coisas de Timbaúba e Região