Queima de cana de açúcar e seus males à saúde respiratória


Usinas de Timbaúba, Camutanga, Carpina e de outras cidade da região Mata Norte de Pernambuco já estão funcionando a todo vapor,  mas com a riquesa vem a poluição do pó da palha da cana queimada, isso afeta a saúde de muita gente.

De acordo com estudos, os grupos mais afetados são os de crianças até 13 anos e idosos acima de 60 anos de idade.


 É fundamental manter atenção redobrada aos problemas causadores de males respiratórios. Um deles são as queimadas. O Brasil é hoje o maior produtor de cana de açúcar mundial. Matéria prima para a produção de açúcar e também de álcool etílico, a cana está presente em cerca de 5 milhões de hectares. Boa parte desta área é queimada nos seis meses de pré-colheita, enviando para a atmosfera inúmeras partículas e gases poluentes, que prejudicam não apenas os trabalhadores destas plantações, mas também toda a população residente nestas áreas.
“O material particulado fino causa irritação das vias aéreas mesmo em indivíduos saudáveis. No entanto, o efeito deletério se manifesta amplamente nos portadores de alguma doença respiratória, como asma, DPOC, bronquectasias e sequelas pulmonares”, comenta a dra. Márcia Diniz, pneumologista e secretária da sub-sede Campinas da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT).
Nestes indivíduos, a inflamação das vias aéreas, iniciada pelo contato com a poluição da queimada, desencadeia a ocorrência de broncoespasmo, produção de muco, chiado, tosse, catarro e/ou falta de ar, em graus variáveis.
Existem diversas pesquisas no estado de São Paulo que comprovam o aumento de incidência de doenças respiratórias em várias cidades durante o período de queima de cana. Pesquisadores do Laboratório de Poluição Ambiental da USP, como o dr. José Eduardo Delfini Cançado, da SPPT, demonstraram, em um grande estudo feito na cidade de Piracicaba, interior de São Paulo, que a poluição específica da queima de palha de cana estava associada ao aumento de internações de crianças e idosos por doenças respiratórias.
Outro pesquisador deste grupo, dr. Marcos Arbex, ex-presidente da SPPT Regional Araraquara, comprovou que a poluição pela queimada está relacionada com o aumento da prescrição médica de inalação para tratamento de doenças respiratórias na região. Mostrou, ainda, que o material particulado inalado pode levar a crises hipertensivas, aumentando os atendimentos em serviços de emergência.
“Em Santa Bárbara d´Oeste, um estudo sobre o impacto da poluição em relação ao número de inalações realizadas no Pronto Socorro da cidade comprovou aumento significativo. Outra pesquisa, sobre a flora fúngica da cidade, verificou redução da biodiversidade de fungos nestas regiões. Isso demonstra que a produção do material particulado influencia também a biosfera local”, comenta dra. Márcia.
                                               
Trabalhadores e legislação
A legislação atual ainda permite a queimada, mas com restrições de horários e distância das cidades. Fica proibida, por exemplo, quando o nível de umidade relativa do ar fica abaixo de 30%.
Os trabalhadores das usinas de várias regiões já recebem orientações para que a cana seja queimada apenas em determinados horários do dia, conforme condições meteorológicas, e com uma equipe especializada na queima. No entanto, a médica adverte que estas medidas apenas minimizam os efeitos, uma vez que a exposição ainda é muito grande.
“A alternativa para evitar este transtorno seria a coleta mecanizada, sem a realização da queima da palha. Existe uma legislação de que a queimada seja totalmente proibida nas áreas de coleta mecanizável, mas somente a partir de 2021. Nas áreas não mecanizáveis, a queima controlada poderá se estender ainda por mais tempo. É claro que a lei poderá ser mudada, de acordo com a existência de evidências de prejuízo à saúde, e também por pressão da população”.


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