Faltam poucas semanas para as usinas pernambucanas voltarem a moer. As operações iniciam normalmente em meados de setembro, o que deve se repetir nesta safra. No entanto, um problema tem crescido no campo. Há infestações de pragas nos canaviais, como a ferrugem, capim-colonião e ainda a cigarrinha, esta última mais intensa na Zona da Mata Sul, região de maior produção da cana local. O combate às pragas aumenta muito o custo do produtor. A elevação do gasto cresce também devido ao reajuste dos insumos, a exemplo de fertilizantes e herbicidas, que têm os preços atrelados ao dólar em alta. A valorização da moeda norte-americana frente ao real só é positiva para exportações do açúcar, mas onera bastante os custos de produção da cana no Brasil.
Diante do cenário, um estudo do Departamento Técnico da Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco (AFCP) mostra crescimento de 15,3% dos custos de produção em menos de quatro anos, enquanto que o preço da cana continua quase o mesmo no período analisado.
O preço da cana varia todo mês. Em julho, a tonelada alcançou seu maior valor este ano, chegando a R$ 103,57. No entanto, este valor é inferior ao de outubro de 2016, quando atingiu R$ 103,74. “Já os custos de produção destes períodos são bem diferentes. Cresceu 15,3% exatamente, pois era de R$ 114,45 e agora é de R$ 131,93%”, conta o produtor Virgílio Pacífico, que é responsável pelo levantamento do Departamento Técnico da AFCP.
“Estamos pagando para trabalhar literalmente. Isso só não acontecerá se a usina pagar uma boa bonificação extra pela cana. E a Taxa de Açúcar Recuperável (ATR), indicador que define o valor do produto, for elevada. Portanto, vai trabalhar no ‘vermelho’ o fornecedor independente de cana de açúcar que não tiver uma bonificação compatível com os seus custos de produção da safra”, diz Alexandre Andrade Lima, presidente da AFCP.
Lima lembra que PE é o estado brasileiro que tem mais cana produzida por fornecedores independentes. “Já caiu para 30%, mas hoje responde por 46% de toda cana pernambucana. O restante vem dos canaviais das próprias usinas. A AFCP conta que a volta do crescimento percentual da cana do agricultor está atrelada à política do governo Paulo Câmara de incentivo à reativação de usinas sucroernergéticas desde a safra 2014. A reabertura de usinas, a exemplo da Coaf (em Timbaúba) e da Agrocan (em Joaquim Nabuco), tem estimulado o canavieiro a plantar mais ao ter como escoar a produção e na expectativa de melhores bônus pela cana.
Na última safra, por sinal, a usina Coaf pagou o maior preço da cana em todo o Brasil. O preço médio pago pela tonelada foi de R$ 145. “Nossa expectativa para esta nova safra é que o percentual da cana do produtor independente eleve ainda mais, assim como possa aumentar o bônus da cana paga pelas usinas, mais empregos e mais impostos, já que teremos a reativação de outra usina, a CooafSul, antiga Estreliana em Ribeirão, também com o apoio direto do Governo Estadual”, diz Lima