A Polícia Civil concluiu o inquérito que investigava a morte de Thomas Felipe Bandeira da Rocha, menino de 10 anos que foi eletrocutado em uma Academia Recife, localizada numa praça no bairro de Engenho do Meio, na Zona Oeste da cidade.
Com 28 dias de investigação, a polícia indiciou duas pessoas por homicídio culposo: um microempreendedor individual contratado pelo Instituto de Gestão de Esporte e Cultura (Igec), que gere a academia, e um eletricista, contratado pelo microempreendedor
“Ao ter estudado as normas técnicas que existem para ligações elétricas, a gente entendeu que existe clara relação entre a ação deles, a forma como foi feita a ligação, e o evento que ocasionou a morte do menor”, disse o delegado João Gustavo Godoy, responsável pela investigação.
Segundo a Polícia Civil, a instalação elétrica que provocou o acidente foi feita sem seguir as normas técnicas que garantem a segurança. Foi comprovado que parte do fio estava desencapado, como alegou a família de Thomas desde o princípio, e que a instalação não tinha aterramento.
A principal hipótese da polícia é de que parte desse fio se desencapou e eletrificou o armário enquanto as crianças brincavam. No entanto, a polícia argumenta que o acidente só aconteceu porque as normas técnicas não foram seguidas.
“Ela acaba subindo num gradil de ferro, […] e acaba caindo e pisando no eletroduto. Esse eletroduto, por não estar posicionado da forma como deveria estar, corre. Como o corte feito no armário para a entrada do eletroduto não foi completo, foi simplesmente um rasgão, ele criou uma lâmina. O cabo PP, teve que passar por essa lâmina e acabou cortando, eletrificando todo armário e causando o choque que ocasionou na morte do menor”
Ao todo, 15 pessoas foram ouvidas no decorrer da investigação, incluindo as três crianças que brincavam com Thomas no momento do acidente. Os depoimentos delas foram acompanhados por agentes do Departamento de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA).
Mãe pede mais fiscalização
A mãe de Thomas, Tássia Raquel Bandeira, lembrou, em entrevista à TV Globo, que estava ao lado do filho quando a descarga aconteceu. Ela pediu mais atenção dos órgãos fiscalizadores para os serviços públicos prestados à população.
Segundo Tássia, apesar de não ter o objetivo de machucar seu filho, os profissionais indiciados pela polícia assumiram esse risco quando não obedeceram às normas técnicas. “A vida já é tão dura para você assumir o risco de fazer um procedimento errado sabendo que vai matar alguém. Eu sei que não teve a intenção, mas assume a responsabilidade”.
Tássia apelou ainda para que as mães não deixem de frequentar os equipamentos públicos com crianças e incentivou que eventuais irregularidades sejam denunciadas.
“As mães, que têm seus filhos, não deixem de ir para os parques públicos, porque são os únicos locais que a gente tem gratuitos que são seguros. Vá, se tiver alguma coisa errada, denuncie. […] A gente já está tão calejado que perde as forças. Uma hora, alguém vai fiscalizar”, disse.
Relembre o caso
- Thomas Felipe Bandeira da Rocha morreu no dia 2 de outubro após ser atingido por uma descarga elétrica no Engenho do Meio, na Zona Oeste do Recife;
- No momento da descarga, ele brincava de se esconder com um amigo numa unidade da Academia Recife, localizada na praça do bairro;
- De acordo com testemunhas, a criança tinha se escondido no armário onde são guardados os pesos de musculação quando levou o choque;
- Um vídeo gravado no local mostra um fio desencapado no armário onde o menino levou o choque;
- Segundo um morador da área, pessoas pegaram um pedaço de madeira para tentar afastar o fio da criança e, então, conseguiram removê-lo;
- Thomas foi socorrido por moradores e levado por um comerciante da área para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) dos Torrões, na mesma região.
- De acordo com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), a morte do garoto foi confirmada ao chegar na unidade de saúde;
- À época, o Instituto de Gestão de Esporte e Cultura (Igec), responsável pela gestão da academia, disse que os equipamentos da unidade “foram manuseados pelos colaboradores do projeto, sem registro de falhas ou vazamento de corrente elétrica”;
- O Igec também negou que houvesse “fios desencapados ou expostos” no local.
g1 PE