Paciente morre em UPA à espera de transferência; famílias enfrentam dificuldades para enterrar os corpos

 A pressão no sistema de saúde do Grande Recife e da Zona da Mata devido à Covid-19 tem gerado perdas antes mesmo do atendimento adequado para pacientes. Em alguns casos, as pessoas não resistem e perdem a vida enquanto esperam por leitos. Em outros, a espera é por vaga para sepultamento. O estado afirmou, em nota, que as unidades de saúde “estão funcionando normalmente”.

 

Moradora de Timbaúba, na Zona da Mata, Josefa Severina da Silva, de 71 anos, faleceu enquanto aguardava uma transferência para o Hospital Alfa, no Recife, segundo a família. “É uma coisa surreal, porque você não vivencia o luto, o sepultamento”, lamentou Liliane Hipólito, sobrinha de Josefa.

 

“Minha tia estava com sintomas de Covid-19 e foi à UPA de Timbaúba pela primeira vez no dia 8 de março. Por duas vezes, ela foi e voltou porque conseguiram estabilizá-la. No terceiro dia, 10 de março, ela ficou internada porque a saturação baixou muito”, disse Liliane.

 

“Lá na UPA, ela teve todo o atendimento que era possível. Fizeram raio-X, deram medicações, mas ela piorou muito na quarta-feira [10]. O médico chegou a dizer que estava esperando a confirmação para transferir para o Alfa, mas não tinha vaga. Se tivesse sido transferida ainda na quarta, talvez tivesse ajudado a ter algum tipo de reação”, afirmou.

 

No Grande Recife, busca por atendimento para Edson Salgueiro da Silva Júnior, de 37 anos, começou no dia 26 de fevereiro. “A gente tentou atendimento na UPA de Olinda, que fica na PE-15, mas, quando chegamos lá, disseram que não tinham vaga. Pediram para a gente ir para a UPA de Igarassu ou para o [Hospital] Tricentenário, em Olinda”, contou a mãe dele, Vera Lúcia Salgueiro.

 

Levado ao Tricentenário, o paciente, com Covid-19, acabou sendo transferido ao Hospital Eduardo Campos da Pessoa Idosa, no Recife, dois dias depois do internamento. Na nova unidade, ele permaneceu internado entre os dias 28 de fevereiro e 13 de março, quando não resistiu.

 

“Ele faleceu no sábado [13], mas só conseguimos enterrar na terça [16], porque o plano funerário não estava conseguindo local. Acabamos sepultando no Cemitério de Santo Amaro [no Recife] porque ele tinha uma ligação com a Ordem Terceira da Igreja Católica, que nos ajudou”, disse Vera.


Josefa Severina da Silva tinha 71 anos e faleceu na UPA de Timbaúba à espera de transferência para hospital de campanha da Covid-19, segundo familiares — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal – Do G1 PE

 

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