Todos os dias quando acorda e abre a porta de casa, Ossiane Silva, de 27 anos, se depara com as rochas que um dia já fizeram parte de um vulcão, no município de Ipojuca, Litoral Sul de Pernambuco. Ela conta que sempre viu os pesquisadores chegarem para estudar as pedras, mas que, em nenhum momento, se preocupou em perguntar o motivo do interesse deles no quintal de sua moradia. “Nunca ouvi falar dessa história, que achei interessante. Ainda assim, não dá medo, afinal, ele já está desativado há muito tempo”, avalia. Assim como Ossiane, a maioria dos pernambucanos nem imagina que há milhões de anos o que atualmente conhecemos como sendo o território pernambucano já foi palco de grandes erupções.
Por ter seu território localizado no centro de uma placa tectônica – grandes blocos rochosos que compõem a crosta terrestre -, costuma-se ensinar que o Brasil está livre de diversos fenômenos naturais, como vulcões e terremotos, pois eles ocorrem em locais próximos às extremidades destas placas, de tamanhos continentais. No entanto, há cerca de 102 milhões de anos, quando os continentes africano e o americano se separaram, o que é hoje a Bacia de Pernambuco foi palco de um intenso magmatismo – formação, desenvolvimento e movimentação do magma, que são as rochas em fusão no interior da terra. Pesquisadores dizem que o último trecho que se desligou foi exatamente onde hoje estão as cidades de Sirinhaém, Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho. Esse deslocamento ocorreu justamente no período de maior atividade vulcânica nessa região.
Hoje, onde hoje é a estrada de barro que leva à Usina Ipojuca, ônibus param para que estudantes conheçam o local. “Coletivos lotados estão sempre chegando aqui. As pessoas sobem e passam a tarde. Estudam, conhecem, muitos quebram as pedras para levar um pouco do vulcão para casa”, conta o operador de carregadeira Jailson Silva, 31, que mora numa casa encostada no antigo vulcão, composto de granizo e óxido de silício. “Subimos com frequência ali, sempre que não tem nada para fazer. A vista é muito bonita”, comenta. Com aproximadamente 20 metros de altura, o chamado “neck vulcânico”, originado pela solidificação do magma dentro da garganta de um vulcão ativo, é o mais famoso da região.
Na cidade vizinha, a dona de casa Antônia do Nascimento, 24, mora sobre as rochas vulcânicas no Cabo de Santo de Agostinho há menos de um ano. “Olha, assim que eu cheguei, o locatário já me contou que as pedras eram especiais, que tinham sido de um vulcão”, contou. A casa em que ela vive foi construída ali durante a duplicação da PE-060, segundo o presbítero da Assembleia de Deus local, José Ladislau, 72. “A paróquia e as casas ficavam bem na pista. Construíram aqui em cima das pedras quando teve a obra, há mais de 20 anos. Eu lembro que quebravam elas para usar na construção”, lembra. Todos os dias José pisa no solo pré-histórico, mas ele não sabe o que é um vulcão. Muito menos que aquele local já foi um.
Os vulcões são aberturas em montanhas presentes na superfície terrestre que expelem gases, fogo e lava. Eles aparecem quando as placas tectônicas se chocam, movimentando o material presente sobre elas e deixando aberturas para camadas mais profundas do planeta. Pesquisas apontam que há evidências de pelo menos nove vulcões inativos em Pernambuco. Outro bom exemplo fica em Serra Preta, na cidade de São José do Egito, Sertão do Pajeú. Localizado em uma propriedade privada, chamada de Fazenda São Pedro, o acesso não é devidamente preparado para visitações turísticas. O lugar é cercado por uma mata densa, que dificulta a chegada.
Embora bastante sólidas, as placas tectônicas não são fixas, mas sua movimentação ocorre ao decorrer de milhares de anos, em um processo extremamente lento. À medida que as placas se movem, algumas crateras (ou bocas) dos vulcões acabam sendo gradativamente deslocadas por quilômetros da saída original por onde a lava era eliminada. Foi exatamente esse fenômeno que estudiosos dizem ter acontecido na Serra Preta. As rochas que hoje se encontram lá são superficiais, não havendo risco de uma futura erupção. Pelo menos não por alguns milhões de anos. Diferentemente de um vulcão adormecido, a Serra Preta constitui o que se chama de “vulcão abortado”.
Litoral Norte tem vestígios do impacto de meteoroHá cerca de 66 milhões de anos, um meteoro atingiu a costa do México e extinguiu mais da metade das espécies existentes no planeta. Em dezembro do ano passado, registros raríssimos do acidente foram abertos ao público em Paulista, na Região Metropolitana do Recife. São os únicos em todo do País e incomuns, mesmo considerando outras regiões do mundo. O Geossítio K-Pg Mina Poty, como é chamada o espaço reservado para a conservação de sedimentos que comprovam a extinção pré-histórica assim como o modo como ela ocorreu, está abrigado em 65 mil quilômetros quadrados da área de mineração da Votorantim Cimentos. O projeto de conservação é uma parceria entre a companhia e a UFPE.
Segundo pesquisadores, o que há de mais importante no local é a presença de uma linha de sedimentos que mostram o efeito de um maremoto causado pelo impacto do meteoro. É o evento que caracteriza a passagem da era dos dinossauros para a dos mamíferos. Segundo os especialistas, os animais com mais de 25 quilos morreram, com poucas exceções. Geólogos da Universidade Federal de Ouro Preto, em São Paulo, contam que ao cavar, foi encontrada uma linha que mostra onde o tsunami ficou. Na época, quase tudo que havia no local morreu, sobretudo a vida marinha. Ou seja, tudo que está abaixo dessa linha, viveu há mais de 66 milhões de anos. Tudo que está acima, apareceu depois. É uma evidência da extinção.
Foi possível provar a teoria pela existência de grãos microscópicos e fragmentos de quartzo de impacto produzidos pelo calor do meteoro no México. Para não restar dúvidas, os pesquisadores ainda mostraram uma terceira evidência. Em uma linha vertical de um centímetro na barreira de sedimentos, justamente onde se inicia a área referente ao que foi a água do maremoto, foi encontrada uma substância chamada Irídio. O elemento é originado de meteoros e meteoritos.
Por ter seu território localizado no centro de uma placa tectônica – grandes blocos rochosos que compõem a crosta terrestre -, costuma-se ensinar que o Brasil está livre de diversos fenômenos naturais, como vulcões e terremotos, pois eles ocorrem em locais próximos às extremidades destas placas, de tamanhos continentais. No entanto, há cerca de 102 milhões de anos, quando os continentes africano e o americano se separaram, o que é hoje a Bacia de Pernambuco foi palco de um intenso magmatismo – formação, desenvolvimento e movimentação do magma, que são as rochas em fusão no interior da terra. Pesquisadores dizem que o último trecho que se desligou foi exatamente onde hoje estão as cidades de Sirinhaém, Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho. Esse deslocamento ocorreu justamente no período de maior atividade vulcânica nessa região.
Hoje, onde hoje é a estrada de barro que leva à Usina Ipojuca, ônibus param para que estudantes conheçam o local. “Coletivos lotados estão sempre chegando aqui. As pessoas sobem e passam a tarde. Estudam, conhecem, muitos quebram as pedras para levar um pouco do vulcão para casa”, conta o operador de carregadeira Jailson Silva, 31, que mora numa casa encostada no antigo vulcão, composto de granizo e óxido de silício. “Subimos com frequência ali, sempre que não tem nada para fazer. A vista é muito bonita”, comenta. Com aproximadamente 20 metros de altura, o chamado “neck vulcânico”, originado pela solidificação do magma dentro da garganta de um vulcão ativo, é o mais famoso da região.
Na cidade vizinha, a dona de casa Antônia do Nascimento, 24, mora sobre as rochas vulcânicas no Cabo de Santo de Agostinho há menos de um ano. “Olha, assim que eu cheguei, o locatário já me contou que as pedras eram especiais, que tinham sido de um vulcão”, contou. A casa em que ela vive foi construída ali durante a duplicação da PE-060, segundo o presbítero da Assembleia de Deus local, José Ladislau, 72. “A paróquia e as casas ficavam bem na pista. Construíram aqui em cima das pedras quando teve a obra, há mais de 20 anos. Eu lembro que quebravam elas para usar na construção”, lembra. Todos os dias José pisa no solo pré-histórico, mas ele não sabe o que é um vulcão. Muito menos que aquele local já foi um.
Os vulcões são aberturas em montanhas presentes na superfície terrestre que expelem gases, fogo e lava. Eles aparecem quando as placas tectônicas se chocam, movimentando o material presente sobre elas e deixando aberturas para camadas mais profundas do planeta. Pesquisas apontam que há evidências de pelo menos nove vulcões inativos em Pernambuco. Outro bom exemplo fica em Serra Preta, na cidade de São José do Egito, Sertão do Pajeú. Localizado em uma propriedade privada, chamada de Fazenda São Pedro, o acesso não é devidamente preparado para visitações turísticas. O lugar é cercado por uma mata densa, que dificulta a chegada.
Embora bastante sólidas, as placas tectônicas não são fixas, mas sua movimentação ocorre ao decorrer de milhares de anos, em um processo extremamente lento. À medida que as placas se movem, algumas crateras (ou bocas) dos vulcões acabam sendo gradativamente deslocadas por quilômetros da saída original por onde a lava era eliminada. Foi exatamente esse fenômeno que estudiosos dizem ter acontecido na Serra Preta. As rochas que hoje se encontram lá são superficiais, não havendo risco de uma futura erupção. Pelo menos não por alguns milhões de anos. Diferentemente de um vulcão adormecido, a Serra Preta constitui o que se chama de “vulcão abortado”.
Litoral Norte tem vestígios do impacto de meteoroHá cerca de 66 milhões de anos, um meteoro atingiu a costa do México e extinguiu mais da metade das espécies existentes no planeta. Em dezembro do ano passado, registros raríssimos do acidente foram abertos ao público em Paulista, na Região Metropolitana do Recife. São os únicos em todo do País e incomuns, mesmo considerando outras regiões do mundo. O Geossítio K-Pg Mina Poty, como é chamada o espaço reservado para a conservação de sedimentos que comprovam a extinção pré-histórica assim como o modo como ela ocorreu, está abrigado em 65 mil quilômetros quadrados da área de mineração da Votorantim Cimentos. O projeto de conservação é uma parceria entre a companhia e a UFPE.
Segundo pesquisadores, o que há de mais importante no local é a presença de uma linha de sedimentos que mostram o efeito de um maremoto causado pelo impacto do meteoro. É o evento que caracteriza a passagem da era dos dinossauros para a dos mamíferos. Segundo os especialistas, os animais com mais de 25 quilos morreram, com poucas exceções. Geólogos da Universidade Federal de Ouro Preto, em São Paulo, contam que ao cavar, foi encontrada uma linha que mostra onde o tsunami ficou. Na época, quase tudo que havia no local morreu, sobretudo a vida marinha. Ou seja, tudo que está abaixo dessa linha, viveu há mais de 66 milhões de anos. Tudo que está acima, apareceu depois. É uma evidência da extinção.
Foi possível provar a teoria pela existência de grãos microscópicos e fragmentos de quartzo de impacto produzidos pelo calor do meteoro no México. Para não restar dúvidas, os pesquisadores ainda mostraram uma terceira evidência. Em uma linha vertical de um centímetro na barreira de sedimentos, justamente onde se inicia a área referente ao que foi a água do maremoto, foi encontrada uma substância chamada Irídio. O elemento é originado de meteoros e meteoritos.
Do: Folha PE
Coisas de Timbaúba e Região