Em sessão pública realizada na última segunda-feira (22) na Câmara de Vereadores de Farroupilha, na Serra Gaúcha, a vereadora Eleonora Broilo (PMDB) fez comentários ofensivos a pessoas naturais do Nordeste do Brasil. A parlamentar alega ter respondido ao colega Raul Herpich (PDT). Na mesma sessão, o pedetista criticou os deputados gaúchos e afirmou que eles “mal e mal falam entre si” para defender os interesses do Estado, ao contrário dos “nordestinos, que se unem e levam todas as vantagens porque sabem fazer política”.
A declaração foi dada em uma discussão sobre o atual momento político do país, em que o presidente Michel Temer (PMDB) é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pelos crimes de corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da Justiça, e diversos políticos, inclusive gaúchos, são citados em escândalos envolvendo desvios de dinheiro público. A vereadora falou, já no final da sessão, que não queria se manifestar, mas “depois de tudo que ouvi, resolvi dizer algumas coisas”.
– Em relação a nordestino saber fazer política, não sei se eu concordo muito. Eu acho que os nordestinos sabem muito bem se unir, sim, para roubar. Eles sabem se unir para ganhar propina. Eu acho que eles sabem se unir para aumentar a corrupção. Isso eu acho que eles são donos. Isso eu concordo, plenamente – afirmou.
Em seguida, ela prosseguiu na generalização de que os nordestinos seriam um povo propenso à corrupção, e ironizou a maneira com que as pessoas naturais daquela região falam:
– Talvez até eles não saibam falar muito bem, mas sabem roubar que é uma maravilha. Nisso eu concordo.
A vereadora seguiu com comentários gerais sobre a atual conjuntura política do país:
– É muito fácil ver corrupção em todo mundo, mas muitas vezes as pessoas não olham para si mesmos. Então, me preocupa um pouco. Eu vou tornar a dizer uma frase que eu disse a semana passada: não atirem pedras no telhado dos outros, quem tem telhado de vidro. Por favor, né?
Tentativa de distorcer, alega vereadora
Em nota enviada ao Pioneiro na manhã desta terça-feira (23), a parlamentar alegou que “a fala está descontextualizada” e que era uma reação a uma declaração anterior, de outro vereador, que teceu críticas a políticos gaúchos.
“Nesse sentido, manifestei-me com referência exclusivamente aos políticos nordestinos – e não ao povo nordestino –, ocasião em que efetivamente fiz considerações desabonatórias ao seu modo – dos políticos nordestinos, reitera-se – de fazer política. Em nenhum momento minha fala, veiculada num espaço político, se referiu ao povo nordestino, o que é perfeitamente aferível a partir de uma análise global do vídeo da sessão legislativa”, argumentou.
“A tal sentir, logo após a minha fala, outro vereador, integrante da bancada da situação, fez comentários tentando distorcer o conteúdo das considerações veiculadas, exatamente no sentido de que se estaria referindo genericamente ao povo nordestino, motivo pelo qual novamente pedi a palavra e esclareci, imediatamente, que em nenhum momento fiz referência ao povo nordestino mas, sim, críticas aos políticos nordestinos. A tentativa de distorcer a minha fala somente pode ser imputada ao fato da minha forte oposição ao Executivo Municipal. Sempre me pautei pela retidão de caráter no exercício da minha profissão – sou médica pediatra –, sem qualquer espécie de preconceito, ingressando na esfera política a fim de garantir um mínimo de representação feminina na Câmara de Vereadores de Farroupilha, o que deve ser buscado em todas as esferas de Poder da República e é incentivado pelo Tribunal Superior Eleitoral”, complementou.
Em nota, a Câmara de Vereadores de Farroupilha afirmou que “em razão da repercussão que ocorre via redes sociais, e veículos de comunicação, sobre a manifestação da vereadora Eleonora Broilo na sessão do dia 22 de maio deste ano, tomará as medidas estabelecidas no Regimento Interno e Código de Ética deste Poder Legislativo. Conforme artigos 57, 58 e 59 do Regimento, juntamente com a Resolução 390/02 o vereador que sentir-se lesado com a postura da vereadora, deve protocolar o requerimento com um terço da assinatura dos vereadores, solicitando a abertura da Comissão de Ética, em caráter temporário para analisar o caso específico. A Comissão deverá composta por um vereador de cada partido e caberá a esta Comissão o parecer deste caso.”
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