Menina que desapareceu em Olinda diz à Polícia que ‘não queria deixar os pais tristes’

A menina J.N., de 9 anos, fugiu de casa porque “não queria deixar os pais tristes”. Foi esta a informação que ela prestou em seu depoimento ao delegado Frederico Marcelo Castro, da 7ª Delegacia Seccional de Olinda. A criança desapareceu no último dia 21, quando deixou o condomínio onde morava com os pais em Jardim Atlântico, Olinda, e só foi reencontrada na última sexta-feira (24), a mais de 20 quilômetros de distância no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife. 


“É muito difícil para a gente, enquanto autoridade policial, entender o que se passa na cabeça de uma menina de 9 anos. A resposta dela foi vaga, imprecisa, mas foi basicamente isso: ‘não queria deixar meus pais tristes’. Isso nos leva a crer que essa criança teve uma vida muito sofrida, viveu em abrigo. Não sabemos se em casa ela possa ter levado algum tipo de sermão, até educativo mesmo, e na cabeça sofrida dela resolveu sair de casa”, conta o delegado.

A menina vivia com os pais há dois anos. Por volta das 5h30 de 21 de julho, imagens das câmeras de segurança do condomínio mostram ela deixando o local. Ela trazia consigo uma mochila nas costas, com um pacote de biscoito e R$ 10. O pai, ao acordar, se deparou com a ausência da filha e, junto à esposa e ao outro filho, saiu em busca da criança pelos arredores do condomínio onde moravam.

“Segundo os pais, não havia qualquer tipo de desentendimento na família. Perguntamos se ela usava redes sociais, pois chegamos a desconfiar que pudesse ter sido vítima de uma rede de tráfico internacional de crianças. Mas o único acesso à internet que ela tinha era supervisionado pelos pais. Fomos também ao abrigo onde a menina viveu antes de ser adotada, mas ninguém lá tinha visto algo. Passou a ser um quebra-cabeça gigante”, acrescenta o delegado.

Foram solicitadas imagens das câmeras de vigilância de prédios próximos à casa da família e se constatou que a menina chegou, ainda naquela manhã, de pé, até a orla de Rio Doce. Ela seguiu em caminhada pela praia até ser avistada por um casal de carroceiros, que perguntou o que a menina estava fazendo sozinha naquele local. “Ela disse que tinha fugido de um abrigo. Os carroceiros perguntaram se ela queria voltar para o abrigo. Ela disse que não. Depois perguntaram se ela queria ir viver com eles”, prossegue.

A menina seguiu com os carroceiros durante os três dias consecutivos, se alimentando de doações que recebiam. E foi assim que ela foi parar em Boa Viagem, onde foi localizada na manhã do dia 24, nas proximidades da Avenida Domingos Ferreira. Enquanto ela esteve sumida, os pais, desesperados, passaram a pedir ajuda nas redes sociais e na imprensa.

J. levava consigo um celular. E em uma das mensagens enviadas à família, na sexta, chegou a mandar um “mamãe eu te amo” com emojis de choro. Tão logo os pais souberam de seu paradeiro, foram até ela em Boa Viagem por conta própria, sem aguardar a Polícia, tendo passado em seguida pela delegacia.

Por enquanto, a hipótese provável é que a de que menina agiu por conta própria, reforçada pela frase dita em sua explicação para o sumiço. Contudo, a investigação não foi encerrada. “O relatório técnico da escuta especializada não aponta, até o momento, indícios de abusos e maus-tratos. Os pais já foram ouvidos no inquérito e a gente aguarda o resultado de algumas perícias, como o laudo traumatológico e, principalmente, o sexológico”, pontua Frederico Marcelo Castro.


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