Jovem agredida durante exame ginecológico diz que foi à clínica fazer exame após descobrir que está grávida

Amanda Oliveira, a jovem de 20 anos que foi agredida por uma mulher enquanto fazia uma ultrassonografia endovaginal, tinha descoberto havia poucos dias que estava grávida, quando foi à clínica popular LP Saúde, no Grande Recife, na segunda-feira (30). Em entrevista ao g1 e à TV Globo nesta sexta (3), ela contou que foi atendida na unidade no dia 16 de outubro para fazer o mesmo procedimento e que marcou o exame pela segunda vez por indicação do médico.

“Fui para saber com quanto tempo [de gestação] eu estava, se estava tudo ‘certinho’. Chegando lá, fiz o exame, tudo ‘direitinho’. Ele me informou que eu estava com pouco tempo e que não dava para ver tão claro. E aí ele pediu para eu fazer refazer esse exame depois de 15 dias. Foi aí que fui na segunda-feira”, disse Amanda.

O caso ocorreu durante a manhã da segunda, no bairro de Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes. Amanda, que está na segunda gestação, contou que trabalha como vendedora e que foi à clínica durante o intervalo no trabalho.

Até a última atualização desta reportagem, o g1 não conseguiu localizar o médico que realizou o exame e a mulher que a agrediu.

Os advogados que representam a vítima disseram que vão pedir a responsabilização da clínica. A LP Saúde informou que está à disposição para prestar os “esclarecimentos necessários”

Segundo a jovem, a agressora, que não estava no local no dia do primeiro exame, já se encontrava dentro da sala quando ela chegou para fazer a ultrassonografia.

“Ela já estava lá, inclusive fazendo o papel de auxiliar dele, que, inclusive, também estava presente no momento. […] Eu achei estranho porque eu sei que o contrato do médico com a clínica é ter uma companhia de mulher quando vai fazer o exame ginecológico. A auxiliar dele já estava presente lá então, ela não deveria estar lá”, afirmou a vítima.

De acordo com Amanda, depois que ela apresentou o comprovante de pagamento do exame, a mulher, que dizia ser médica, se mostrou incomodada com o fato de ela estar de calça.

“Ela fez: ‘Você sabe que não deveria ter vindo de calça, né? Você tinha que ter vindo de saia’. Eu fiz: ‘Sim, mas eu estava no meu trabalho’. Aí ela: ‘Mas é proibido, por acaso, trabalhar de saia no seu trabalho?’. Eu fiz: ‘Não, mas eu quis vir de calça’. Ela começou a dizer que eu não tinha modos por causa disso. Começou a falar bem muita coisa. E deitei na maca já chorando”, relatou.

Ainda segundo a vítima, durante a discussão, ela pediu para a mulher sair da sala, que se negou a deixar o local, enquanto o médico e a auxiliar permaneceram calados.

Amanda afirmou ainda que, logo no início do exame, a mulher puxou o transdutor que o médico manejava para fazer a ultrassom e, em seguida, ela pegou o celular para filmar a discussão. As imagens foram publicadas nas redes sociais

“Ela puxou o transdutor de mim com muita força. Foi aí que eu vi que ela era capaz de fazer qualquer coisa ali, até porque eu estava gestante. […] No momento do vídeo que eu estou filmando, não dá para ver bem, mas ela puxou muito meu cabelo, deu tapa na minha cabeça. Fiquei com muita enxaqueca depois disso. A parte da minha cabeça, aqui ao lado, ficou inchada. Até hoje, inclusive, ainda dói um pouco”, contou a vendedora.

Segundo a vítima, ao ouvir os gritos, uma das recepcionistas da unidade entrou na sala e, após mais uma discussão, a agressora saiu do local com o médico.

“[A recepcionista] veio tentar me acalmar e acalmá-la. Ela não se acalmou, se alterou também com a recepcionista […] Ela saiu, foi embora com o médico e [as funcionárias] ficaram lá prestando o apoio. […] Ele simplesmente saiu da sala com ela. Foi embora e sumiu. Não voltou mais”, relatou Amanda.

Responsabilização cível e penal

Um dos advogados que representam Amanda, Tadeu Filho, informou que vai pedir a responsabilização da clínica, do médico e da mulher que agrediu a vendedora.

“Na esfera cível, a partir do momento da agressão física e verbal, já cabe a indenização por reparação dos danos morais. Primeiramente, a clínica responde porque a responsabilidade de tudo o que acontece dentro daquele espaço é da clínica. Posteriormente, cabe a responsabilização do médico, que permitiu que tivesse uma pessoa terceira, alheia, dentro da sala, já que é um exame muito peculiar. Depois, cabe também a responsabilização da médica pela agressão física e verbal”, informou.

O caso é investigado como lesão corporal pela Delegacia de Polícia da Mulher de Prazeres, em Jaboatão.

“Além de ela ter sofrido uma agressão psicológica, verbal – o que caracteriza o crime de injúria, inclusive, uma injúria majorada por ter sido praticada na presença de várias pessoas; tem também a lesão corporal. Ela já foi submetida à perícia traumatológica para testar as lesões que ela sofreu”, afirmou o outro advogado de Amanda, Daniel Lima.

O que diz a clínica

Procurada, a rede de clínicas populares LP Saúde enviou uma nota informando que “vem a público pedir desculpas à paciente envolvida” no caso. A empresa afirmou ainda que:

  • Não compactua com nenhum ato de violência, seja física ou verbal;
  • Foi prestada assistência à vítima pela clínica e não possui nenhuma ligação com a “mulher desconhecida que invadiu o consultório”;
  • O médico foi “devidamente afastado” e a segurança no local foi reforçada;
  • Coloca-se à disposição para prestar todos os esclarecimentos necessários e se compromete “a auxiliar a paciente a promover responsabilização cível, criminal e ética dos envolvidos”.
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