Insuficiente. Essa foi a percepção sobre a rede de atenção aos pacientes com doenças reumatológicas no Estado depois de análise conduzida pela pesquisadora da Fiocruz Pernambuco, Suélem Barros. O estudo, concluído este ano, revela problemas que agravam o sofrimento de quem busca atendimento em todo o território como a concentração de profissionais e de serviços na Região Metropolitana do Recife (RMR) e a falta de abordagens multifatoriais ao problema de saúde, que na maioria das vezes deságua apenas em tratamentos medicamentosos. Em números, a pesquisadora aponta que 70% dos reumatologistasestão na RMR, 41% dos atendimentos ambulatoriais são no Recife e 87,15% das internações em reumatologia ocorreram apenas na Capital. Para as analises foram revisados dados da assistência à saúde de 2010 a 2017.
Outro fato que complica uma política pública é a inexistência de estatísticas oficiais de quantos pernambucanos convivem com doenças reumatológicas (DR). Sabe-se, contudo que mais de 70 mil pessoas foram afetadas pela chikungunya de 2015 a 2017. A arbovirose comprovadamente gera quadros reumatológicospermanentes, a exemplo da artrite. De acordo com levantamentos acadêmicos sobre o tema, a taxa de cronificação da doença, que é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, é de 30%. Isso significa 21 mil pessoas a mais em busca de diagnóstico e tratamento apenas nos últimos três anos. “Identificamos que Pernambuco não apresenta uma rede de atenção à saúde específica para o acompanhamento de pacientes reumatológicos, embora apresente uma série de componentes estruturais indispensáveis para o seu funcionamento. Mas não é suficiente ter os componentes, eles precisam funcionar em rede, precisam dialogar com o intuito de dar resolutividade às questões reumatológicase, também, prevenir o surgimento de doenças por meio de estratégias de promoção à saúde”, explicou a pesquisadora Suélem Barros.
Ela comentou ainda que a atenção aos pacientes com DR ainda é pautada exclusivamente nos atendimentos realizados pelos médicos especialistas, que se concentram na RMR, com os serviços de média e alta complexidade, havendo pouca ênfase para o trabalho de uma equipe profissional interdisciplinar, descrita na literatura como necessária para assistência desses pacientes. “A atenção à saúde do paciente reumatológico, centrada no profissional médico e valorizada do ponto de vista farmacêutico, também é preocupante, pois é reflexo do arcaico modelo de saúde aplicado nos dias atuais. Demonstra uma assistência à saúde limitada para as reais necessidades destes usuários, portadores de condições crônicas e pouco envolvida com a promoção da saúde, mudança de estilo de vida e prevenção de incapacidades funcionais”, explicou.
A doméstica Clarita Coelho, 31 anos, é um desses casos. Há dois anos, a chikungunya a pegou. “Sentia muitas dores. Ainda hoje, quando acordo e coloco os pés no chão, ainda dói. Só depois de algum tempo é que vai passando”, contou. No início, para aliviar as dores e inchaço nas articulações buscou as UPAs, mas não conseguia ficar boa por muito tempo. “Quando ia para as emergências, como na UPA, só passavam remédios ‘besteirinha’ como dipirona, tylenol, e isso ai não resolvia. Ai diziam que não tinha remédio para isso não”, relembrou. No desespero, tomou por conta própria corticoide por três a quatro meses. Foi somente com a intervenção da patroa que ela conseguiu um acompanhamento médico mais direcionado no Hospital Barão de Lucena (HBL).
“A gente trabalhava mancando. Era horrível”, disse. Mesmo assim, Clarita Coelho contou que a assistência é feita por um clínico geral e até hoje não passou uma avaliação com reumatologista. Ela também nunca teve indicação para sessões de fisioterapia ou outra abordagem que não fosse a medicamentosa. “Era só remédio que ele passava. Aumentava a dosagem e pronto. Fiz uns exames de sangue, urina e fezes”.
A manicure Elaine Silva, 29, tem uma história parecida. Ela teve os sintomas do vírus há dois anos e, de lá para cá, o inchaço nos joelhos e tornozelos viraram rotina. “Antes eu não conseguia nem andar, gritava de dor e fui socorrida várias vezes. Nunca passavam um remédio que sarasse, porque diziam que não exista. Então, era só medicamento para passar a dor na hora”, relembrou. Tentando descobrir o que acontecia com as articulações, acabou pagando do próprio bolso exame de imagem, já que no SUS o teste iria demorar demais. “Paguei R$ 70 na época para fazer o exame já que se fosse depender do SUS, esse teste só sairia meses depois.”
Outro fato que complica uma política pública é a inexistência de estatísticas oficiais de quantos pernambucanos convivem com doenças reumatológicas (DR). Sabe-se, contudo que mais de 70 mil pessoas foram afetadas pela chikungunya de 2015 a 2017. A arbovirose comprovadamente gera quadros reumatológicospermanentes, a exemplo da artrite. De acordo com levantamentos acadêmicos sobre o tema, a taxa de cronificação da doença, que é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, é de 30%. Isso significa 21 mil pessoas a mais em busca de diagnóstico e tratamento apenas nos últimos três anos. “Identificamos que Pernambuco não apresenta uma rede de atenção à saúde específica para o acompanhamento de pacientes reumatológicos, embora apresente uma série de componentes estruturais indispensáveis para o seu funcionamento. Mas não é suficiente ter os componentes, eles precisam funcionar em rede, precisam dialogar com o intuito de dar resolutividade às questões reumatológicase, também, prevenir o surgimento de doenças por meio de estratégias de promoção à saúde”, explicou a pesquisadora Suélem Barros.
Ela comentou ainda que a atenção aos pacientes com DR ainda é pautada exclusivamente nos atendimentos realizados pelos médicos especialistas, que se concentram na RMR, com os serviços de média e alta complexidade, havendo pouca ênfase para o trabalho de uma equipe profissional interdisciplinar, descrita na literatura como necessária para assistência desses pacientes. “A atenção à saúde do paciente reumatológico, centrada no profissional médico e valorizada do ponto de vista farmacêutico, também é preocupante, pois é reflexo do arcaico modelo de saúde aplicado nos dias atuais. Demonstra uma assistência à saúde limitada para as reais necessidades destes usuários, portadores de condições crônicas e pouco envolvida com a promoção da saúde, mudança de estilo de vida e prevenção de incapacidades funcionais”, explicou.
A doméstica Clarita Coelho, 31 anos, é um desses casos. Há dois anos, a chikungunya a pegou. “Sentia muitas dores. Ainda hoje, quando acordo e coloco os pés no chão, ainda dói. Só depois de algum tempo é que vai passando”, contou. No início, para aliviar as dores e inchaço nas articulações buscou as UPAs, mas não conseguia ficar boa por muito tempo. “Quando ia para as emergências, como na UPA, só passavam remédios ‘besteirinha’ como dipirona, tylenol, e isso ai não resolvia. Ai diziam que não tinha remédio para isso não”, relembrou. No desespero, tomou por conta própria corticoide por três a quatro meses. Foi somente com a intervenção da patroa que ela conseguiu um acompanhamento médico mais direcionado no Hospital Barão de Lucena (HBL).
“A gente trabalhava mancando. Era horrível”, disse. Mesmo assim, Clarita Coelho contou que a assistência é feita por um clínico geral e até hoje não passou uma avaliação com reumatologista. Ela também nunca teve indicação para sessões de fisioterapia ou outra abordagem que não fosse a medicamentosa. “Era só remédio que ele passava. Aumentava a dosagem e pronto. Fiz uns exames de sangue, urina e fezes”.
A manicure Elaine Silva, 29, tem uma história parecida. Ela teve os sintomas do vírus há dois anos e, de lá para cá, o inchaço nos joelhos e tornozelos viraram rotina. “Antes eu não conseguia nem andar, gritava de dor e fui socorrida várias vezes. Nunca passavam um remédio que sarasse, porque diziam que não exista. Então, era só medicamento para passar a dor na hora”, relembrou. Tentando descobrir o que acontecia com as articulações, acabou pagando do próprio bolso exame de imagem, já que no SUS o teste iria demorar demais. “Paguei R$ 70 na época para fazer o exame já que se fosse depender do SUS, esse teste só sairia meses depois.”
Sobre a chikungunya, Suélem Barros classificou como indiscutível o aumento da demanda de usuários acometidos por problemasreumatológicos em decorrência deste vírus. Ela explicou, ainda, que as DRs vistas como sequelas deixadas pela chikungunyaacabaram por dar visibilidade ao drama dos pacientes no Estado. “Acredito que (a chikungunya) gerou uma demanda maior de pacientes em busca de atendimento, em decorrência de problemas reumatológicos. Mas, por outro lado, acredito que foi positivo, por servir de alerta para necessidade de estruturação de uma rede de atenção para questões reumatológicas; foi importante para apontar fragilidades na assistência e despertar um olhar mais específico para os distúrbios musculoesqueléticos, um problema que cresce expressivamente”, destacou.
Estruturação de rede
A Secretaria Estadual de Saúde esclareceu que vem trabalhando na qualificação e ampliação da rede de atendimento em reumatologia do Estado. Ressaltou que Pernambuco é pioneiro na assistência específica para os casos de chikungunya, com a implantação, em agosto de 2016, de ambulatório no Hospital Getúlio Vargas voltado para o atendimento a pacientes com dores articulares crônicas provocadas pela arbovirose, que apresentem, por mais de 90 dias, dores articulares após o início dos sintomas (fase subaguda e/ou crônica). O Ambulatório de Acometimento Articular da Chikungunya conta com duas especialistas em reumatologia.
Sobre os resultados da insuficiência apontada pela pesquisa da Fiocruz, a pasta disse que a rede de reumatologia estadual está presente em todas as macrorregiões de Saúde do Estado, por meio das Unidades Pernambucanas de Atenção Especializada(UPAEs) de Caruaru, Garanhuns, Salgueiro, Afogados da Ingazeira e Serra Talhada. Frisou também que toda a rede de UPAEs (dez ao todo) conta com o suporte de fisioterapia motora. Os hospitais das Clínicas (HC), Geral de Areias e Universitário Oswaldo Cruz (HUOC) também ofertam a especialidade de reumatologia. A marcação é feita pelos municípios de residência do usuário, juntamente com a Regulação Ambulatorial do Estado, ou seja, o acesso à especialidade deve ser realizado, ainda, na Atenção Primária, após avaliação médica.
Sobre os resultados da insuficiência apontada pela pesquisa da Fiocruz, a pasta disse que a rede de reumatologia estadual está presente em todas as macrorregiões de Saúde do Estado, por meio das Unidades Pernambucanas de Atenção Especializada(UPAEs) de Caruaru, Garanhuns, Salgueiro, Afogados da Ingazeira e Serra Talhada. Frisou também que toda a rede de UPAEs (dez ao todo) conta com o suporte de fisioterapia motora. Os hospitais das Clínicas (HC), Geral de Areias e Universitário Oswaldo Cruz (HUOC) também ofertam a especialidade de reumatologia. A marcação é feita pelos municípios de residência do usuário, juntamente com a Regulação Ambulatorial do Estado, ou seja, o acesso à especialidade deve ser realizado, ainda, na Atenção Primária, após avaliação médica.
Do: Folha PE
Coisas de Timbaúba e Região