Pernambuco registrou oficialmente seus dois primeiros casos da síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica em crianças que positivaram para a covid-19 com sintomas como febre persistente acompanhada de um conjunto de manifestações, como pressão baixa, conjuntivite, manchas no corpo, diarreia, dor abdominal, náuseas, vômitos e comprometimento respiratório, entre outros sinais. No Estado, as notificações incluem uma criança de 5 anos, residente de Joaquim Nabuco (Zona da Mata Sul), atendida no Hospital Correia Picanço, localizado no bairro da Tamarineira, Zona Norte do Recife; e outra de 12 anos, moradora de Sirinhaém (também na Mata Sul), acompanhada pelo Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc, em Santo Amaro, área central do Recife). Ambas receberam atendimento nas unidades no início de julho, tiveram confirmação de covid-19 pelo exame de RT-PCR (aquele que detecta a infecção ativa), já tiveram alta médica e não apresentaram sequelas da síndrome.
“Nossos serviços pediátricos precisam estar atentos a possíveis quadros que atendam a definição de caso da síndrome, objetivando ofertar a assistência necessária para o paciente e realizar os esforços para sua confirmação. Por ser um novo achado e que ainda está sendo estudado, precisamos ser devidamente notificados para termos um panorama do perfil epidemiológico dos casos e, com isso, possamos implementar as medidas necessárias”, afirmou o secretário Estadual de Saúde, André Longo, em coletiva de imprensa transmitida pela internet nesta quinta-feira (6).
Em Pernambuco, há outros relatos dessa condição, mas que ainda não foram notificados, pois somente na última semana o Ministério da Saúde implantou a notificação desses casos nos sistemas de monitoramento e mantém conversas com as secretarias de Saúde dos Estados e municípios para orientar o diagnóstico e atendimento de possíveis casos por profissionais de saúde através da identificação dos sinais e sintomas mais comuns. Portanto, por dados oficiais, até julho, quatro Estados registraram casos: 29 no Ceará, 22 no Rio de Janeiro, 18 no Pará e 2 no Piauí, além de três mortes no Rio de Janeiro.
A pneumopediatra Rita Moraes de Brito, professora da Universidade de Pernambuco (UPE), já atendeu quatro casos de crianças no Hospital da Restauração, no bairro do Derby, área central do Recife. “Não se trata de uma unidade referência para acompanhar quadros respiratórios, mas é um serviço que é referência em cirurgia abdominal. Como esses pacientes chegavam com um dor forte no abdome, que faz suspeitar de apendicite, os quadros chamaram a minha atenção no HR. Ao ver uma das crianças, percebi que não se tratava de apendicite, pois ela tinha outros sintomas sugestivos de covid-19”, relata Rita, que chegou a acompanhar os pacientes durante o auge da epidemia do novo coronavírus no Estado.
No Brasil, a maioria dos casos relatados apresentou exames laboratoriais que indicaram infecção atual ou recente pelo novo coronavírus (por biologia molecular ou sorologia) ou vínculo epidemiológico com caso confirmado de covid-19. Embora esses casos descritos apontem para uma possível relação de uma nova característica da doença em crianças e adolescentes, o Ministério da Saúde ressalta que essas ocorrências foram raras até o momento, diante do grande número de casos com boa evolução da doença entre crianças e adolescentes.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia emitido um alerta mundial aos pediatras relatando a identificação de uma nova condição clínica, possivelmente associada à covid-19, caracterizada pela síndrome inflamatória multissistêmica, com manifestações clínicas similares à síndrome de Kawasaki típica, Kawasaki incompleta e/ou síndrome do choque tóxico. Entre os sintomas mais frequentes estão febre persistente acompanhada de um conjunto de sintomas como pressão baixa, conjuntivite, manchas no corpo, diarreia, dor abdominal, náuseas, vômitos e comprometimento respiratório, entre outras manifestações.
No Brasil, no dia 20 de maio, o Ministério da Saúde, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), já havia emitido um alerta chamando atenção da comunidade pediátrica para a identificação precoce da síndrome.
Países como Espanha, França, Itália, Canadá e Estados Unidos também identificaram casos em crianças e adolescentes. No mundo, há relatos de mais de 300 casos.